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Não há “soluções técnicas” para “défices éticos”

Henriques Ngolome
4/9/2023
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Cedida pela fonte

Inicialmente a luta do povo angolano centrou-se na busca da liberdade, depois da Independência, as opções ideológicas não foram capazes de concretizar as aspirações dos angolanos.

Após a independência, em 1975, os angolanos viram-se mergulhados num longo conflito armado e sucessivas crises de natureza política, económica e ética. Essa última, chega a ser a crise primária, que decorre da perda do agir ético, do viver além dos limites de todas as ordens necessárias para a realização humana, o agir além da consciência da prudência e do risco.

Dizem que a história se repete como farsa, o que significa que um país pode  viver em uma eterna farsa, já que tudo o que a história faz ao longo dos séculos é se repetir. Como escreveu Barbara Tuchman - a “Marcha da Insensatez”. Esta obra trata de um dos grandes paradoxos da humanidade: a insistência dos governos em opções políticas contrárias à realização do Bem Comum. O livro destaca conflitos históricos em que decisões erradas daqueles que estavam em posições de liderança tiveram consequências catastróficas, uma demonstração de evidências da incapacidade de governantes (e governados) enxergarem quando os mesmos erros trágicos do passado estão prestes a se repetir— muitas vezes, de um passado recente.

A presente reflexão é vital, porque nos leva a reflectir além da liberdade, em termos de RESPONSABILIDADE do que deveria ser feito, mas não estamos a fazer e de ACÇÕES de que teríamos orgulho em RESPONDER e contar as próximas GERAÇÕES.

Vezes sem conta, questiono-me: o quê aconteceu, para que a busca incessante do bem-estar de todos, deixasse de estar no CENTRO DAS DECISÕES POLÍTICAS E ECONÓMICAS. As crises passaram a ser criadas e combatidas para o enriquecimento de uma minoria, em prejuízo da maioria… É o que se poderia chamar também da Marcha da Insensatez, que coloca a nossa marcha do “eterno devir” no pior que podemos dar à nossa Nação.

As crises de ordem; política, económica e ética, só podem ser mitigadas com uma Cultura Ética, capaz de tornar Cultura, todos valores que a Angola devia representar para nós – sem os quais não haverá o desenvolvimento sustentável, inclusivo e social de todo o angolano e de todos os angolanos. Angola precisa urgentemente de uma Cultura Ética, como LIMITE da Constituição, da Lei e dos Códigos Deontológicos, dos Cargos e competências, das prerrogativas e das imunidades. Se não vamos continuar a falar sobre:

Acumulação primitiva de capitais em Angola: uma oportunidade perdida de implementação de uma Ética Aplicada à Política e aos Negócios.

Endividamentos e corrupção sistémica (ganância de uma minoria, com bilhões em paraísos fiscais: uma oportunidade perdida de Ética Aplicada à Economia, a verdadeira causa da crise económica em Angola.

“ … Dêem-se as voltas que se derem, não há “soluções técnicas” para “défices éticos”. A verdade desta afirmação de António Bangão Felix. Revela, em parte, os nossos fracassos no Combate à Corrupção e em muitas opções económicas, que em vez de atacar as raízes, focam-se em problemas dominantes. Ora, apesar de reconhecer os esforços empreendidos pelo actual Executivo no Combate a Corrupção e Reformas Macroeconómicas, que têm merecido o reconhecimento de instituições como FMI, ainda nos debatemos com questões de transparência, a accountability, a igualdade política e a própria democracia.

Enfim, evidências e tendências da nossa realidade, não deixam de nos avisar sobre a necessidade de repensarmos o futuro da nossa Angola. As crises, além de perigos, nos dão oportunidades de redefinir o futuro que queremos. É imperioso pensarmos na constituição da  ACÇÃO ÉTICA como “A NOSSA IDENTIDADE PESSOAL” E “O PERFIL IDENTITÁRIO DA SOCIEDADE ANGOLANA QUE SE PRETENDE CONSTRUIR A LONGO PRAZO” de outro modo não vejo desenvolvimento, sustentável, inclusivo e social de Angola a médio e longo prazo. Porque, não há “soluções técnicas” para “défices éticos”.