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“Nós mulheres nascemos com vários braços e conseguimos fazer muitas coisas ao mesmo tempo” - Nilza Lima

Sebastião Garricha
7/5/2024
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Foto:
Andrade Lino

Em entrevista exclusiva à E&M, Nilza Lima, socióloga e quadro do sector petrolífero há cerca de 15 anos, fala dos desafios da mulher em Angola e apresenta o ‘pano de fundo’ da plataforma “A Líder”.

Comecemos a conversa olhando para o lançamento da plataforma “A Líder”. O que ela traz de novo em relação a outras já existentes?

A Líder é uma plataforma de empoderamento feminino. Ela nasce da necessidade que senti de mostrar mulheres ao longo do tempo. Fui vendo muitas mulheres capazes e que não são conhecidas. Vi que não existia nenhuma outra forma para promover todas as mulheres realmente capazes, mulheres que podem servir como incentivo de outras que estão a começar, que por uma outra experiência menos boa não tenham conseguido singrar e mostrar seus potenciais. Quero conhecer outras mulheres e entender, portanto, como é que atingiram níveis altos, quais são os desafios que enfrentaram e que continuam a enfrentar, como é que conciliam a vida pessoal e a vida profissional, entre outras coisas. Porque nós mulheres nascemos com vários braços e conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo. Esta é uma característica nossa. É algo inato.

Entende-se, à partida, que se trata de uma plataforma para mulheres. Mas estamos a falar da empresária, bancária, agricultora ou comerciante?

Nós temos  entrevista da Luísa, uma jovem senhora do bairro que contraiu poliomielite enquanto criança. Ou seja, uma mulher que além de ter nascido com limitações financeiras, também cresceu com limitações físicas. É alguém que se formou e ficou cinco anos sem conseguir um emprego. Volvidos esses cinco anos, começou a catar lixo por 50 kwanzas. Hoje, passados mais quatro anos, esta senhora tem uma empresa com mais de 160 funcionários. É para dizer que não existe uma estratificação social, não. A condição é serem mulheres batalhadoras e líderes de verdade. 

Como é que deverá medir o impacto da plataforma? 

Trata-se de uma página no YouTube, como tantas outras, é a nossa forma de divulgação. Eu entrevisto, encontro as mulheres, porque estou desde o ano passado a fazer pesquisas de mulheres, onde há eventos para mulheres, onde há empresas. Procuro saber como é que são formados os conselhos da administração das empresas e tudo o que elas vão fazendo. E, por inerência das minhas atividades, vou conhecendo outras mulheres em fóruns, em workshops e outros eventos. Então, nesse sentido, eu vou entrevistar várias mulheres e divulgar semanalmente. 

Mas como é que fazer para conseguir medir o impacto da plataforma?

Nós fazemos um grande trabalho de comunicação e marketing, usamos as várias plataformas disponíveis, desde a televisão, rádio, os órgãos de informação, usamos, também, as redes sociais para divulgação. Fazemos essa divulgação e vamos medindo pelos contactos que temos, de outras mulheres, de sugestões, vamos medindo também pelo feedback do público. Sabe que as redes sociais são bastante interactivas. Por exemplo, desde o lançamento do primeiro episódio até hoje (30 de Abril), volvidos cinco dias, já tivemos as redes sociais todas com comentários, likes, partilhas e tudo mais. Desta forma vamos medir e também conseguir as sugestões de novos nomes. 

Já agora, conseguiu atingir as expectativas com a realização do primeiro episódio?

Mais do que nunca, superou inúmeras vezes as minhas expectativas. Nunca pensei que a aceitação fosse ser tanta, a todos os níveis, repito, a todos os níveis. Nunca pensei que fosse ter tanta aceitação e que fosse ser muito rápida a sua divulgação. Então, eu vejo que realmente foi um pensamento acertado de que é um nicho ainda por explorar e com muito potencial. E, como digo, o intuito é contribuir, é estar ao serviço do meu País. Este é o intuito principal, é o objectivo principal. 

Quando é que começa a olhar para este nicho? 

Fiz o ensino médio na África do Sul, depois fiz a primeira licenciatura nos Estados Unidos, em business, e a segunda em sociologia. Eu não me sentia confortável com business. Achei que business não tinha nada a ver comigo, porque eu sou uma pessoa de pessoas. Então, fiz sociologia, na especialidade de cultura. Entretanto, depois regressei a Angola e fui trabalhar nas áreas comercial, marketing e comunicação. Primeiro, tive a trabalhar três anos na Maersk, e posteriormente fui para o sector petrolífero, onde estou até hoje. Tive vários cargos, o último cargo foi de directora do gabinete comercial, marketing e comunicação. Mas eu tenho a minha carreira paralela, onde fui fazendo desde sempre, desde os tempos de estudante. Comecei como agente musical de cantores, ajudei a realizar eventos. Tive alguns anos com o Mukano Charles, onde aprendi sobre o showbiz e como realizar eventos. 

Aliás, já representou Angola em vários eventos internacionais...

Já representei Angola e os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) em prémios internacionais, promovendo a nossa cultura. Fui coordenadora para a África Central do  "African Muzik Magazine Awards" (AFRIMMA), um prémio que se realiza anualmente em Dallas, e coordenadora para os PALOP nos prémios African Entertainment Awards USA.

Sabe-se é que quadro do sector petrolífero há cerca de 15 anos. Como é que consegue conciliar os dois ofícios?
A minha empresa apoia bastante. Conhece o meu outro lado, sabe que tenho um lado artístico, porque como lhe disse, fiz sociologia da cultura na licenciatura, e enquanto estudante eu sempre fui agente em part-time. Nem diria part-time, aquilo era praticamente um trabalho pro bônus, era o apoio que eu dava. Gostava muito do showbiz e sempre dei um apoio à cultura, tanto que enquanto era colaboradora no sector petrolífero, em 2009, eu era uma das guionistas do Janela Aberta, da TPA. Fui tendo sempre para me sentir preenchida, não que um emprego não preencha. Nunca fiz o teste, mas eu acho que sou hiperativa, estou sempre em movimento e é assim que vou fazendo sempre algo pela cultura. 

A seu ver, as mulheres que actuam no sector petrolífero têm tido espaço para pensar e agir?

Por exemplo, a empresa em que trabalho sempre valorizou o papel da mulher. Só para termos uma noção, a primeira Presidente do Conselho de Administração (PCA) desta empresa foi uma mulher. Além disso, temos tido sempre, em todas as administrações, pelo menos uma mulher. Neste momento temos duas mulheres. Temos várias mulheres em cargos altos de gestão nas comissões executivas das subsidiárias, temos várias mulheres como directoras. 

Já agora, quando e como é que entra para o sector petrolífero? 

Na verdade, posso dizer que entro no secto petrolífero em 1997. Vai achar estranho, porque nesta altura eu era estudante. Tive uma bolsa de estudo, onde fui para Indiana e Business Administration e posteriormente tive que regressar. Achava que ainda tinha muito para aprender, muito para estudar e na altura tinha me apaixonado pela disciplina de sociologia e resolvi fazer uma segunda licenciatura já por conta própria. 

Portanto, começa a trabalhar depois que regressa ao País?

Sim, quando regressei a Angola fiquei emprestada à Maersk por três anos, depois tive que voltar para casa em 2009 e ingressei nos quadros, onde era técnica comercial. Posteriormente fui para outra subsidiária, onde iniciei a minha carreira em marketing. Fiz várias formações no Brasil e Portugal. Vi que o meu caminho era este, o marketing. Depois fui para a área de comunicação, onde fiquei por três anos como chefe de secção de gestão de canais de comunicação.